Filho, André Luiz, foi entrevistado pelo Oberekando. O então governador José Richa conheceu sua esposa no cinema, assistindo a um filme do consagrado caipira
2016-03-14 às 21:06:12) Nascido em 21 de junho de 1957, caçula do grande artista Amácio Mazzaropi, entre seus cinco filhos legítimos, André Luiz Mazzaropi concede de forma muito gentil uma detalhada entrevista ao Oberekando, onde conta da vida de seu imortalizado pai. Sob o título “Tem um Jeca na Cidade”, ele brinda Telêmaco Borba com o Projeto Mazzaropi, com a Mostra de Cinema que desde ontem (13), abriu as solenidades alusivas aos 52 anos deste município e contará, até na quarta-feira (16), com a projeção de um filme por noite, à partir das 20 horas, do consagrado pai, no anfiteatro da Casa da Cultura, e uma exposição fotográfica no Hall de entrada na mesma. O evento deixa ainda mais viva a memória do maior artista do Brasil, que veio a inaugurar, ao lado dos monstros sagrados como Hebe Camargo e Boni, a Televisão no país, mas antes, já estrelava com um salário invejável na época, na Rádio Tupi, seus programas que eram de auditórios.
ANDRÉ: O ANJO DA GUARDA DO PAI MAZZAROPI
Na época em que Mazzaropi ficou bastante adoentado, coube ao caçula, - dividida entre os outros quatro irmãos as demais responsabilidades dos negócios do pai, como por exemplo, as produtoras de cinema, - cuidar dele enfermo. Foram dois anos de intenso aprendizado com o mestre. Entre seus 17 e 18 anos foi a época que ele cuidava de seu pai, com pouco mais de 60 anos. Foi nesta mesma idade o que pai também começou a brilhar. “Ali nascia o meu personagem atual ‘O Filho do Jeca” que ele trabalha no projeto. Após a grande preocupação de que o pai não conseguiria resistir, eis que ele tem uma melhora que lhe dá qualidade normal de vida, e voltou a fazer aquilo que de fato era sua paixão: O show de circo. O cinema era uma fonte econômica, mas claro, como tudo, fazia com amor e dedicação. Tanto que ele tinha, quando estava na Rádio Tupi (SP), um pavilhão que percorria os municípios. “Não era um circo, como informam alguns”. Ele não era casado, e tinha a mãe dele com 25 anos a mais que ele. “Até desleixei um pouco da minha própria família e fui cuidar dele. Ele em gratidão a isso me leva ao circo e ao cinema. Foi o caso no ‘Jecão, um fofoqueiro no céu’. ‘O Jeca e seu filho preto’ ajudei a escrever. Já, ‘Jeca e a égua milagrosa’ ele escreveu adoentado”.
PARA CHEGAR A FAMA, MAZZAROPI ATÉ FUGIU DE CASA
Nascido na capital de São Paulo, ele teve passagem por Sorocaba e Curitiba. Para entender que tenha sido sepultado na metade do mês de junho de 1981 em Pindamonhangaba, aos 69 anos, vamos rever esta parte de sua história.
Na capital, ficou até os 14 anos, onde cursou apenas até o segundo ano primário. Quando seu pai Bernardo ganha um armazém de secos e molhados da Companhia Sorocabana de Trens, em Sorocaba, pra lá eles se mudam. Ele até tenta voltar a escola, mas não consegue. Neste interim, foge pegando carona. Ele pensava estar voltando a ser paulistano, mas eis que é enganado e ao invés de ir pra lá (SP), conforme fala o motorista de caminhão, ele vai é pra Curitiba. “Sorte que ele tinha um tio lá, que era o único irmão que viera da Europa em fuga, junto com seu pai Bernardo Mazzaropi”. Lá ele encontra um faquir: Ferri, que o leva pra São Paulo. Acaba entrando no campo artístico, como assistente de faquir. Isso aconteceu quando ele tinha 17 anos, e na porteira do Brás, local hoje na capital paulista que é Estação Roosevelt. “Ali ele uniu o que fazia com canções napolitanas (falava italiano muito bem) e seus famosos trejeitos”, explicou o filho. O fato de seu avô morar em Tremembé, próximo à Pindamonhangaba, foi o que o fez ser sepultado nesta cidade do Vale do Paraíba.
E CHEGA A FAMA: “CHATEUBRIAND FOI O GRANDE RESPONSÁVEL DE MAZZAROPI CHEGAR AO SUCESSO”
Com a sua forma que todo o Brasil viria a consagrar, já chamando a atenção, eis que ele é contratado pela Rádio Tupi. A inspiração do personagem Jeca veio de uma dupla, onde lhe chamou a atenção Genésio Arruda. Este o emprestou um chapéu, camisa xadrez e um par de botas, e entra ele com suas melodias italianas e textos cômicos próprios.
Em dois anos que Assis Chateubriand - que era dono da Tupi, e dos Associados (que era a maior e quase que soberana rede de comunicação do país) – ficou nos Estados Unidos pra trazer a Televisão ao Brasil, soube, em 1948, que seu então artista, deixou a sua emissora de rádio por uma tentadora oferta de 100 (cem) vezes mais de salário da poderosa Rádio Nacional, do Rio de Janeiro. Estrelando ao lado de nada menos que Hebe Camargo, Lolita Rodrigues, Derci Gonçalves, além dos mais renomados nomes que se tornariam grandes figuras do Rádio e TV brasileiras, como Boni, Walter Avancini, Cesar Vanutti, eis que tem uma surpresa ao ver quem estava na primeira fila entre os expectadores daquele programa de rádio: Seu primeiro patrão quando já famoso... era Assis! Este o levou novamente com ele, simplesmente dobrando um salário que já antes, havia sido exponencialmente multiplicado por cem.
Abílio Pereira de Almeida o leva então direto para Franco Zampari, que era o dono da Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Mazzaropi estreia lá seu primeiro filme, intitulado Sai da Frente, em 1952.
Ao ver que os produtores estavam ganhando muito dinheiro encima de sua fama, ele decide montar sua própria produtora cinematográfica. Isso ocorre em 1958. Cria-se a PAM Filmes (Produções Amácio Mazzaropi).
MAZZAROPI LEVA COMO EXPECTADORES QUASE O EQUIVALENTE A 3 VEZES A POPULAÇÃO BRASILEIRA A VER SEUS FILMES
O sucesso do caipira, com voz mansa e jeito engraçado, fez ele ter 32 filmes, sendo oito como empregado e por outras companhias, e 24 pela PAM. Ele conseguiu lotar 11.648 salas de cinema em todo Brasil, nas pouco mais de 3 mil cidades existentes, entre 1958 e 1981. Foram mais de 206 milhões de pessoas que assistiram a essas sessões, o que equivale a quase três vezes a população nacional da época em que morreu.
No tocante ao estado do Paraná, uma importante informação foi dada por André Luiz Mazzaropi: Foi justamente vendo um filme de seu pai, que o então governador José Richa conheceu aquela que seria a sua esposa. A mãe do atual governador Beto Richa. O filme, segundo André, foi “Chico Fumaça”, de 1958.
André atuando com o pai
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