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TEREZINHA DOS SANTOS: DE BOIA-FRIA À DIRETORA
TEREZINHA DOS SANTOS: DE BOIA-FRIA À DIRETORA

O amor dela pelo ensinar era tão grande que comprou uma camiseta e mandou fazer uma saia de estudante mesmo sem a ser. Ela foi uma das maiores estimuladoras pela faculdade própria de Telêmaco

 

 ESPECIAL "DIA INTERNACIONAL DA MULHER"

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2017-03-08 às 02:40:43) Nascida em 26 de agosto de 1956, em Telêmaco Borba, o caminho da trabalhadora rural Terezinha dos Santos, até chegar ao ápice que foi a realização de seu sonho, que era ser professora, teve perseverança, resistências e foi coroado com reconhecimento sendo diretora de Centro de Educação Infantil. A também líder comunitária, que é coordenadora da Comunidade Católica Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, nas Cem Casas, após se aposentar no final do ano passado, hoje, com muita alegria, dedica cerca de 90% de seu tempo ao voluntariado. Atitude que na verdade, nasceu arraigada nesse grande ser-humano.

 

EDUCAR JÁ ERA A SINA DELA

Ser vencedora pela Educação já estava escrito na vida da mãe de Paula, Carla e Márcia. Hoje a alegria com que cuida de netos (por opção porque suas filhas trabalham) e é a fascinação deles, tem a mesma proporção do seu esforço para ser professora. Ela nasceu em Telêmaco Borba e era a segunda entre os irmãos, e sabia que tinha que ajudar seus pais a sustentar a família. Quando sua mãe, que era do acampamento do Mandaçaia a acordava, às 4:30 da manhã quando essa ía trabalhar levada por um pau de arara como boia-fria, a pequena Terezinha, ainda com nove anos, também ía para a casa de uma vizinha para cuidar de uma criança. Daí começava sua fascinação e amor a essas.

Ela lembrou que quando estava na quarta série e estudava no sistema multiseriado, a professora precisou fazer uma cirurgia, e coube à aluna mais extrovertida e adiantada da turma – que era ela – ficar por seis meses, em lugar da Mestre. “Gostava muito de estudar, mas a pobreza não nos deixava”, disse, informando que aos 12 anos foi a vez dela, começar a trabalhar “nos matos”, como era o termo tão usado aos que trabalhavam no plantio da Klabin. Já estava ela com 17 anos, quando foi o momento de renovar com mais uma temporada do trabalho. Ela resistiu e deixou os pais revoltados, quando avisou que não continuaria, pois queria estudar. Sem deixar a filha sozinha morando na cidade (Telêmaco), os pais também não renovaram a ficha e vieram com Tê, como é por vezes chamada por tantos amigos. Foi ai que ela conheceu Francisco, seu esposo, com o qual constitui família. Ele foi chamado por Deus não há tanto tempo, mas teve seu sonho realizado em vida, que era ver a esposa com uma faculdade. Ela superou e em muito e a ele tem eterna gratidão por tanto estímulo!

 

NA BRIGA DAS CRIANÇAS HOJE PARA SE USAR UNIFORME, O DIA QUE ELA IMITOU AS ALUNAS DO WOLF

Nesse interim, ainda adolescente, o sonho de ser estudante, - e sem condições porque tinha que se juntar aos pais e irmãos no trabalho braçal -, a levou a uma situação que hoje a provoca risos e um quase não acreditar que isso tenha feito, e ao mesmo tempo, uma reflexão de como era seu sonho, estudar: Sobrinha de Salvador Nunes, bastante conhecido e que morava na Harmonia, ía nos fins de semana até a casa dele acompanhada da avó e depois já sozinha e lá, devorava livros! Mais que isso, foi nessa época, que vendo as meninas do Wolff Klabin com a sainha com as preguinhas e com a camisa, não pensou duas vezes. Foi até uma loja e comprou essa roupa. Esse fato a deixou numa alegria sem precedentes! Salvador é avô do professor Jeferson, da Fateb.

 

NA PRESIDENTE VARGAS E A VIDA EM JANDAIA

O esposo comentou com ela que a Klabin estava exigindo que os funcionários tivessem o segundo grau (hoje, Ensino Médio). Francisco não pestanejou e alcançaria dois objetivos ao mesmo tempo, pois foi o maior incentivador da esposa. “Eu vou só se você for comigo!”. Começou ai ela na Presidente Vargas! No entanto, fala Tereza com saudosismo, e amorosamente: “Ele abandonou o barco!”. Ficou ela e a filha Paula continuando mais esse ciclo. Foi nesse período a alegria desse jornalista de ter estudado com ambas.

Eis que veio Jandaia do Sul, e novamente esse jornalista que aqui escreve, em cursos separados, lá estava com a vencedora. Uma mãe a todos! Terezinha era a mãe, conselheira, sempre com sorriso estampado, uma acadêmica de Pedagogia que era, certamente, a de mais idade na sala, mas um coração jovial e a vontade vencer ainda mais. Na república onde morava, onde também morava esse que escreve, Terezinha lembra que as demais meninas aproveitavam os eventos após as aulas e saíam para alguns shows. “Enquanto todas não chegavam eu não conseguia dormir”.

 

UMA LUTADORA PELA FACULDADE PRÓPRIA DE TB

Se hoje existe uma primeira faculdade que se instalou em Telêmaco, isso traduz o sonho de Terezinha de que suas filhas, assim como as demais estudantes da cidade, não precisassem mais se deslocar, por exemplo à Jandaia como foi o caso dela. Esse foi o argumento que usou ao comentar com o professor Tim Pontara, da Fafijan, porque ele não trazia uma faculdade pra Telêmaco. Nessas alturas lembrou de que ele comentou com ela que a cidade tinha que ter uma estrutura mínima, com bancos, fórum, postos de gasolina, dentre outros. Ela não pensou duas vezes ao lhe perguntar: “Mas você conhece a cidade pra falar isso... mas quem sabe tem?” Eis que um tempo passou e ela é chamada na sala da direção. Pontara a comunicou que teria uma reunião com o prefeito de Telêmaco. Começou ai, ainda sem a popularização do celular e facilidades de internet, ela a trazer documentação e fazer o canal entre Tim e Carlos Hugo e vice-versa.  

Depois dessas vitórias, em Telêmaco Terezinha ganhou novamente o carinho (que a vida toda conservou) das profissionais de Educação, e na Educação Infantil se realizou. A sua aposentadoria não veio sem uma grande homenagem no Salão Nobre da Matriz, por tanto amor à essa causa, e por sua história, que continua viva em seu coração, de amor ao conhecimento, e especialmente, amor ao próximo! Que esse exemplo de vitória diante de tantas adversidades, mas sempre com trabalho, garra e honestidade, seja um espelho às novas gerações.

 

A SAGA DE TEREZINHA

- Graduada em Pedagogia, em Jandaia do Sul (1998) e Pedagogia em Educação Infantil com Especialização em Psicopedagogia.

- Início profissional na Educação como coordenadora na Creche Cantinho do Amor com cargo comissionado

- Prestou concurso em 2006 para professora de Educação Infantil

- Trabalhou por três anos em sala de aula no Cmei Mama e Marta Margarida

- Em 2008, foi para o Cmei Cecília Meireles no Bairro Bandeirantes. Neste, foi também diretora.

- Em 2013 foi para Cmei Cora Coralina por três anos, em sala de aula. “No Cora Coralina, optei por trabalhar lá, devido à distância para eu fazer caminhada!”.

  • A aposentadoria veio no final de 2016.

 

 

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