“Eu não consigo aceitar isso! Jamais!”
Artigo, por Edivaldo Oberek
2016-01-17 às 15:46:16) O título desse artigo foi justamente o que escutei ontem pela bem noitinha, na verdade já madrugada de hoje, de um senhor, com seus apetrechos e com uma alegria imensa e um ar sereno de pessoa honesta, que com suor de seu trabalho estava esperando amanhecer o dia e ir até outra cidade, visitar seus familiares.
Antes porém, de iniciar a conversa com ele, ninguém imaginaria que naquele homem calado e sozinho naquele lugar que o encontrei, havia um coração tão bondoso. Primeiro ganhou meu coração por ter dito que em Telêmaco tem muita gente boa, e empregadores honestíssimos e gente muito amiga. “- Ainda existem pessoas e patrões bons nesse mundo!”.
Depois disso, eis que surge a expressão que intitulou o artigo, e agora fica fácil entender, que na sua bondade, talvez falar a mim e a outra pessoa que comigo estava, fosse a forma de estancar uma forte dor no peito, pelo acontecido. Sua compaixão, aqui sem exagero, beira o que se vê nos evangelhos! Eis que começa:
“Não é possível. Ele era uma pessoa que nunca vi ... um leão ao trabalho. Até fumava lá suas coisas e meio que bastante, e bebia também, mas nunca perto de nós. Morávamos num rancho e ele, com duas semanas depois de estar com servente de pedreiro, imediatamente foi promovido para oficial. Na casa, quando não estava lavando algo, fazendo a comida, sempre nos perguntava o que tinha para fazer, pois, sorridente e feliz sempre, sempre também era uma pessoa que nunca vi antes. Ele tinha duas crianças. Não pensava duas vezes ao mandar 300 ou 400 reais por semana para suas duas meninas: uma de cinco e outra de nove. A relação com a esposa estava balanceada, justamente por causa disso, mas, ela, também guerreira, conhecida a garra dele, excetuando-se o vício, e estavam tentando reatar! Ele guardou-se para levar um bom dinheiro para a casa. Fez uma economia e seu Natal seria agora!” Suas filhas o tinham como super-herói e ele de fato era isso, para elas. Todos os dias se passavam e todos os dias ele falava com suas anjinhas ao telefone! (Eu , Oberek, aqui e agora, me pego na emoção, seguro para não ir às lágrimas e tenho arrepios, porque mais que jornalista, sou ser humano!)
Por várias vezes esse homem falou: ““Eu não consigo aceitar isso! Jamais!”
Eis quando veio, a parte mais improvável para essa alma bondosa de pai, narrada por este anjo de amigo: “Fiquei sabendo, que quando ele estava em Curitiba, até então animado pelo reencontro não tão mais longínquo com as filhas e a esposa, encontra com um amigo: aqueles amigos... sabe? Caíram no fumar, cheirar e todo o vício que ele tinha, mas a nós, sempre resguardou de vermos... porém, eis que seu “AMIGO” possa ter sido quem o matou. Ele deveria ter, de uns três a quatro mil reais no bolso!”
Nesse momento, eu e ele comentamos da tristeza, especialmente das meninas que eram “a vida do pai”, que iria receber, sem mesmo ainda entender bem o desenrolar da situação, seu pai no caixão. Seu herói morto! No que transformou-se seu Natal! Nesta hora, disse a esse senhor, que a compaixão dele, algo que nunca vi igual, cairá como uma oração acalentadora no coração das amadas filhas! Instante ele lembrou, com emoção, que seu pai nunca foi de lhe pegar ao colo, e lhe dizer que o amava... apenas não dizia, porque sempre o amou muito. Ele lembrou que tinha um irmão, não lembro agora se mais novo que ele, que sempre “tapiava” na conversa o seu pai e que, também, sempre andava levando umas “pisas!” Ele, porém, quando lhe sucedia algo, logo vinha e falava: “Pai, aconteceu isso... isso... e aquilo, e não foi porque eu quis, mas aconteceu. Me desculpa!”. Sempre teve o carinho do patriarca, mas sempre usou da sinceridade. “Hoje, com meu filho de 13 anos, graças a Deus ... ele pegou isso de mim! Quando acontece algum problema ele logo vem e me fala e tudo se acerta, mas na verdade!” Novamente eu o disse: “Isso nada mais é, que fruto de sua bondade! Nunca deixe de ser desse jeito. O senhor é raridade!”
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